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A essência do surf
O surf é o acto ilusoriamente simples de apanhar uma onda no oceano em cima de uma prancha. Na realidade, enquanto proeza física fundamental, fazer surf numa onde é uma conjunção fenomenal de forças; a sua matemática é profundamente complexa. No entanto, enquanto a expressão do relacionamento essencial entre o homem e a natureza, o surf é único na sua clareza. E enquanto metáfora de vida e qualquer coisa que a vida nos atira, não tem paralelo. A vida é uma onda. Até Albert Einstein o disse.
Tudo no mundo material se manifesta em ondas, mas, embora a dinâmica das ondas module as fases da nossa existência, esse facto só se torna mais graficamente aparente quando o homem vai para o mar. A apresentação mais arquetípica e simbólica desse relacionamento – entre o homem e os ritmos e forças da natureza – está expressa no acto de apanhar uma onda. A pureza elementar desse encontro explica bem o atractivo quase universal surf.

O que é a cultura do surf?
Os primeiros observadores com um elevado sentido de aventura e um gosto pela estética física, tais como Mark Twain e Jack London, consideraram o «passatempo» do surf nobre e louvável. Mas os primeiros missionários e visitantes, de tradições calvinistas e vitorianas, consideraram-no pagão, imortal e corruptível. Ironicamente, esses pólos opostos continuaram a dominar a opinião popular sobre o surf até a muito pouco tempo.
Tal como no antigo passado polinésio, existem ritos inerentes de passagem no desenvolvimento actual dos surfistas que os levam a pertencer a vários níveis dentro da sociedade. A cultura do surf possui um a história abundante e rica, bem como um sistema único de rituais, elementos de linguagem distintos, elementos simbólicos, uma hierarquia tribal livre e características de modo de vida singulares que foram bastante imitadas e disputadas em todo o mundo

O surfista
            O surfista é uma espécie estranha de criatura anfíbia, um regresso a um passado antigo, um mensageiro de um mundo distante e futuro. Um praticante de uma actividade nascida há muito nas ilhas remotas do Pacífico, o surfista marchou sempre ao som de um tambor diferente, certamente diferente da cultura europeia tradicional.
Os surfistas estão sintonizados com o ritmo das marés e com os ataques violentos e cíclicos de tempestades e vagas. Para que o surf seja suficientemente regular para ser competente (e o surf é mais divertido se o surfista for bom), deve-se tentar viver a vida onde ela acontece. E quando acontece, queremos um pedaço dela, por isso vivemos com uma dupla percepção, uma consciência extra-adquirida que esta constantemente a controlar a situação, á espera da chamada. «Hei, daqui é o Ed. O local é perfeito, vamo-nos a ele!» Os surfistas estão sempre prontos a avançar.

O surf como arte
            Para alguns, apanhar ondas é uma religião; para outros, é um desporto – um bom exercício saudável e, afirmam, nada mais. Alguns disseram que se trata de uma forma de arte efémera e transitória. Se o surf é uma arte, talvez seja uma arte marcial, mas no espírito de aikido, a Arte da Paz, usando a força do adversário para o ultrapassar.
            É a acção de um homem a gravar uma onda com uma prancha: a onda contrai-se num punho de poder, o surfista entra no tubo para o enfrentar. O músculo relaxa, o punho abre-se e retrocede, o surfista fecha a face escancarada da onda colocando a borda da prancha que dá para a praia um arco de desdém beatífico.  Um pouco mais, não? Da perspectiva do surfista artista trata-se de algo mesmo muito belo.

O vício
            Surfar em ondas do oceano é uma brincadeira singular e os surfistas que as mostram ligam-se a uma realidade totalmente diferente que é tão experimental que, naturalmente, não há palavras para a descrever. Como é alguma coisa de natureza jocosa podia ser melhor? Está-se a montar ecos ondulantes de ventos e tempestades do oceano. Está-se a cabriolar em pequenos e perfeitos tornados tridimensionais espiralados e deitados de lado – escorregando pela parede do tubo a baixo – no centro do ciclone. A divertir-se.
            Tal como Nat Young uma vez escreveu: «Ao mostrar onda diariamente ou com frequência e ao levá-lo suficientemente a sério, corre-se o risco de ficar totalmente viciado em surf. Assim que se experimenta esse fenómeno, perde-se a ligação a tudo excepto aos nossos pares de praia e aos valores que as ondas e o oceano nos impõem, quer se goste ou não.»      



 
Informação retirade de:"Stoked, Uma História da Cultura do Surf"